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Apesar do uso disseminado do termo “depressão” em diversos contextos, considero que vale a pena falarmos do que de fato o termo representa. 

Depressão não é o significado da angústia cotidiana tão típica dos seres humanos, da tristeza que surge por situações vividas, e da frustração por aquelas nem sequer vividas, pelo que deveria ser e não foi. Depressão, ou melhor, o termo “Transtorno Depressivo”, expressão correta que define um estado de adoecimento psíquico, uma doença categorizada nos códigos médicos e psiquiátricos.

Segundo a classificação diagnóstica, um indivíduo com transtorno depressivo apresenta de forma persistente, diária, por ao menos 2 semanas, os sintomas de tristeza intensa (ocupando a maior parte do dia), perda do prazer por todas ou quase todas as atividades da vida (inclusive aquelas que de costume lhe eram prazerosas), choro a maior parte do tempo, pensamentos negativos com ideias de inferioridade, culpa, abandono e até mesmo desejo de morte, prejuízo em suas capacidades normais de concentração e rendimento no trabalho,  mudança do padrão de sono e apetite, alentecimento ou agitação do pensamento e da motricidade. 

Doença que segundo a Organização Mundial de Saúde, tem crescido em números nas últimas 2 décadas, se tornado cada vez mais presente em indivíduos jovens e segundo estimativas até 2050 será tão prevalente quanto condições médicas conhecidas de todos, como a Hipertensão Arterial Sistêmica. Nos Estados Unidos em 2010, os custos com a depressão, incluindo custos com tratamento e perda de dias produtivos, excederam 200 bilhões de dólares. 

O transtorno carrega consigo o aumento das chances de suicídios (oitava causa de morte em todas as idades), da ocorrência de doenças médicas, perturbação dos relacionamentos pessoais, uso de drogas ilícitas, perda de trabalho. 

Apesar de tudo isso, surpreendentemente, a maioria dos indivíduos com Transtorno Depressivo acaba por visitar um generalista ou outro médico que não um psiquiatra, e o diagnóstico é então perdido em um número substancial de pacientes.

Ao longo da vida, o risco de apresentar um quadro depressivo gira em torno de 14-20 % para as mulheres e de 8-12 % nos homens. 

Com relação à sua gênese e causas, o Transtorno Depressivo parece ser uma condição de origem heterogênea, envolvendo fatores genéticos e ambientais. Prova de que o fator genético possui um peso na origem do quadro é que parentes de primeiro grau de indivíduos com o transtorno possuem 3 vezes mais chances de desenvolver depressão, comparado aos demais sem esse parentesco. 

Dentre os fatores ambientais (esses merecem destaque, à medida que são os únicos nos quais podemos atuar e modificar) ressaltamos o estresse, as perdas interpessoais e os eventos negativos na vida, doenças médicas (doenças neurodegenerativas, cardiovasculares, dor crônica) e um estilo de vida com maus hábitos para a saúde. 

Destaque deve ser dado ao que chamamos de cognições (pensamentos) negativos, ou seja, em face de um evento negativo da vida, aqueles que possuem tendência a realizar previsões pessimistas sobre as causas do evento, sobre si mesmos e sobre o futuro, e aqueles cuja habilidade no lidar com pessoas e contextos diversos, a chamada “habilidade social” é empobrecida estão em maior risco.   Nesse grupo de pessoas, o transtorno depressivo, após instalado, também pode se tornar mais resistente ao tratamento. 

Acredita-se então que todos esses fatores de risco somados produzem uma alteração na disponibilidade e transmissão de neurotransmissores a nível do sistema nervoso central, em destaque a serotonina, além da alteração de hormônios envolvidos no desencadeamento e perpetuação do estresse. Dessa forma, o circuito da regulação das emoções entra em colapso. 

O tratamento deve ser personalizado e inclui medicações específicas, psicoterapia, apoio e articulação com a família, mudanças nos hábitos e estilo de vida presentes na vida de quem adoeceu. 

Ainda haveria muito a ser dito, e ainda há muito a ser descoberto ...

Espera-se que dessa forma, desmistificando e conhecendo o problema, possamos preveni-lo e tratá-lo de forma eficaz, devolvendo ao ser humano aquilo de lhe é fundamental, a oportunidade de sentir-se vivo e poder plenamente usufruir do que a vida tem de melhor a oferecer.

Dra. LAIS FARDIM NOVAES

CRM ES 10.437

RQE 8970 - PSIQUIATRIA

RQE 9014 - MEDICINA DO SONO

 

“A depressão é o último estágio da dor humana” Augusto Cury

 “Depressão é o excesso de passado, Stress é o excesso de presente e
Ansiedade o excesso de futuro. Então esqueça o que foi, Aceite o que é e Tenha fé no que será.” (Professor Galvão)