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Quando falamos de Insônia, nos dias atuais, não estamos mais nos referindo a um mero sintoma como outrora se acreditava, e sim a uma doença (a insônia faz parte do manual diagnóstico internacional de distúrbios do sono) intimamente relacionada com a psiquiatria, com a medicina clínica, com o uso de medicações e com os comportamentos e crenças que fazem parte do cotidiano daquele indivíduo acometido pelo problema. 

A porcentagem de indivíduos que sofrem de insônia gira em torno de 4 % até valores como 48 %, variando de acordo com a definição do caso e a população estudada. A insônia se caracteriza por uma dificuldade persistente em dormir, apesar de oportunidades adequadas para dormir, gerando consequências ao longo do dia. 

Durante uma noite de insônia, impossibilita-se que o sono normal se estabeleça e com isso que ele realize suas funções de conservação de energia, regulação de hormônios, consolidação da memória, manutenção do funcionamento dos neurônios e eliminação de toxinas cerebrais (um estudo revolucionário demonstrou claramente que é durante uma noite de sono que são metabolizadas e eliminadas toxinas cerebrais, que caso acumuladas podem aumentar o risco de demências, como a demência de Alzheimer). 

Dentre as principais consequências da insônia tem-se fadiga, mal-estar, redução da concentração e memória, erros e mau rendimento no trabalho, aumento significativo das chances de desenvolver depressão e outros transtornos psiquiátricos, e, em destaque, o aumento do risco de sofrer eventos cardiovasculares (infarto do miocárdio, acidente vasculares cerebrais) e morte prematura (indivíduos com insônia tendem a ter menos anos de vida comparados aos que não possuem a doença). 

Boa parte dos quadros de insônia tornam-se crônicos (até 70 % dos casos), ou seja, passam a acompanhar aquele indivíduo ao longo de sua vida inteira, e observa-se com frequência que esses indivíduos usam medicações indutoras do sono por anos e não conseguem interromper o uso. 

Quando falamos de causas para insônia usamos um modelo conceitual de 3 fatores : os predisponentes, os precipitantes e os perpetuadores, que envolvem características genéticas, traços de personalidade, crenças e comportamentos individuais e doenças como os transtornos psiquiátricos (até 90 % dos casos de insônia possuem um transtorno psiquiátrico associado), doenças médicas, uso de medicações ou hormônios, doenças específicas do sono (apnéia do sono, síndrome das pernas inquietas). Destaca-se que é bastante comum a ocorrência de mais de uma causa contribuindo para o desenvolvimento do quadro. Analisar as causas da insônia é portanto uma tarefa complexa e que exige conhecimento e abordagem específicos na área de sono, comportamento, saúde mental e clínica geral.  A avaliação de um quadro de insônia passa por um estudo pormenorizado e individualizado dessa doença  naquele determinado paciente, para que as causas sejam identificadas e o tratamento adequado seja realizado.

O tratamento, embasado na avaliação detalhada do quadro,  inclui desde um desmame gradual das medicações e uso temporário de outros medicamentos com perfil mais adequado, o tratamento dos quadros psiquiátricos e clínicos associados até a terapia específica para insônia com componentes cognitivos e comportamentais.

Dra. LAIS FARDIM NOVAES

CRM ES 10.437

RQE 8970 - PSIQUIATRIA

RQE 9014 - MEDICINA DO SONO