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1- Quais são as principais causas de suicídio? 

Podemos falar em termos de fatores de risco para suicídio. Fatores de risco são características do indivíduo ou circunstâncias que, se presentes, aumentam em muito o risco de uma pessoa tentar o suicídio. Logo, quando se estuda pessoas que cometeram o suicídio, observa-se que quase todas apresentavam ao menos uma dessas condições de risco:

- Presença de doenças psiquiátricas – mais de 90 % dos que tentam o suicídio possuem alguma patologia psiquiátrica, sendo que quanto mais grave for considerado o quadro psiquiátrico maiores são as chances de suicídio.

- Sexo – mulheres tentam suicídio 2 vezes mais que os homens, porém os homens - concretizam o suicídio 3 vezes mais que as mulheres.

-Situações socioeconômicas desfavoráveis: indivíduos solteiros, viúvos, divorciados, que moram sozinhos, desempregados e com dificuldades econômicas apresentam maior chance de cometer suicídio.

-Presença de doenças médicas gerais como asma, câncer, doenças cardiovasculares, diabetes, dor crônica e outras doenças crônicas ou terminais.

-Experiências negativas na infância ou vida adulta como abuso sexual, violência doméstica, violência ou conflitos dentro do ambiente familiar, perda de entes queridos, separações.

-Uso de álcool ou drogas ilícitas.

-História previa de outras tentativas de suicídio. Indivíduos com história prévia de tentativas de suicídio possuem 5 a 6 vezes mais chances de tentar o suicídio.

 

2- Existem sinais que podem ser identificados em um suicida em potencial? 

Deve-se ter em mente que pessoas que apresentem alguns dos fatores de risco anteriormente mencionados estão em maior risco de cometer suicido. Estudos mostram que sentimentos como desesperança estão altamente relacionados à chance de tentar o suicídio, e também baixa autoestima, impulsividade, agressividade, raiva. Pessoas com essas características, diante de situações conhecidas como fatores precipitantes (lutos, separações, crises financeiras) podem vir a cometer o suicídio. É relativamente comum quem está sob risco de apresentar comportamento suicida comentar com terceiros sobre morte, suicídio, escrever sobre, pesquisar sobre métodos de retirar a própria vida. Infelizmente, não existem sinais que nos deem a certeza de quem são aqueles que realmente tentarão o suicídio, portanto a prevenção e a intervenção precoce são fundamentais. 

 

3- Dados da OMS mostram que os casos de suicídio são mais comuns entre idosos e tem crescido muito em jovens. O que acontece nessas idades que levam as pessoas a tirarem a própria vida? 

O risco de suicídio aumenta com o aumento da idade, de forma que idosos com 85 anos ou mais apresentam o maior índice de suicídio na população dos Estados Unidos. Acredita-se que fatores associados à idade mais avançada, como aumento do aparecimento de doenças crônicas e graves, bem como de doenças psiquiátricas, situações de isolamento, falecimento do parceiro-parceira, perda da capacidade de trabalho e redução da cognição própria da idade sejam os responsáveis por isso.

Os índices de suicido entre indivíduos de 15-19 anos duplicaram entre 1960 e 1990 nos Estados Unidos. As razões para esse aumentos não são totalmente conhecidas mas é provável que o aumento, entre os jovens, do uso abusivo de álcool e drogas ilícitas, de depressão, de disfunções no ambiente familiar e maior acesso a meios letais contribuam para tal.

 

4- É possível evitar que alguém próximo de nós se mate? Como os familiares podem ajudar? 

Sem dúvida é possível prevenir o suicídio. O suporte social e familiar é comprovadamente um fator que protege as pessoas de tentar suicídio, mesmo aqueles em risco iminente. A família deve estar atenta aos sinais de risco e levar o paciente para avaliação médica de um especialista, o mais rápido possível. A postura de acolhimento, compreensão e o não julgamento é fundamental.

 

5- A campanha setembro amarelo tem focado na conversa como forma de evitar o suicídio. O que conversar? 

Muitos médicos preocupam-se com o fato de que se tocarem no assunto irão incitar pensamentos e comportamentos suicidas, mas não ha nenhuma evidência cientifica que comprove isso. Pelo contrário, grande parte dos pacientes aprecia a oportunidade de falar sobre esses pensamentos, mas pode não verbalizar essas intenções se o profissional não perguntar ativamente. Os estudos mostram que os indivíduos que subsequentemente comentem suicido haviam visitado um profissional de saúde recentemente. Isso pode ser visto como uma forma dessas pessoas procurarem por auxílio. Portanto, os profissionais de saúde, principalmente de saúde mental, precisam realizar a investigação ativa de pensamentos suicidas, para oferecer o suporte e o tratamento adequados, evitando consequências drásticas ao paciente e à família.

 

6 -  Quais os quadros médicos mais comuns que podem denunciar um suicida? 

As desordens psiquiátricas mais comumente associadas ao suicídio incluem depressão, doença afetiva bipolar, alcoolismo e uso de substâncias ilícitas, esquizofrenia e transtornos de personalidade. Os estudos mostram que mais do que uma doença em especial, a gravidade dos sintomas é o maior determinante do risco suicida.

 

7- A sociedade médica também alerta para o suicídio passivo crônico, ou seja, um suicídio lento, não claramente manifesto. Como identificar? 

Acredito que esse termo possa se referir a atitude de não cuidar de si e de suas enfermidades, dos fatores que podem levar alguém a cometer suicídio ou mesmo falecer por outros motivos. O descuido com a saúde em geral e com a saúde mental principalmente, faz as pessoas não buscarem tratamento, abandonarem o tratamento precocemente ou não o realizarem da forma prescrita pelos médicos. Isso leva ao agravamento das doenças mentais e físicas e aumenta a mortalidade, seja por suicídio seja complicações de outras doenças médicas.

A busca por uma qualidade de vida melhor, ter relações interpessoais saudáveis e significativas e até mesmo o envolvimento em atividades comunitárias, voluntárias e religiosas são valiosas estratégias de promoção de saúde e bem-estar e prevenção de doenças e mortalidade.

Dra. LAIS FARDIM NOVAES

CRM ES 10.437

RQE 8970 - PSIQUIATRIA

RQE 9014 - MEDICINA DO SONO