Um artigo publicado no ano de 2007, com o título “Felicidade: uma revisão” teve como objetivo revisar criticamente os dados científicos que existem sobre o estudo da felicidade e nos trouxe informações valiosas. Nos últimos anos, o interesse da psiquiatria e da psicologia pelo estudo da felicidade tem crescido, e representa uma mudança de paradigma, já que ao longo de praticamente todo o século XX o foco dos estudos se manteve fixo nos estados emocionais adoecidos, ou seja, nas doenças mentais. Mergulhar no que pode cultivar nossa saúde mental ao invés do que pode destruí-la é retira o stigma e nos permite agir de forma a prevenir doenças mentais e o estado crônico de infelicidade. “Educar uma criança, por exemplo, não é “consertar” o que há de “errado” nela, e sim ser capaz de identificar e nutrir seus talentos, seus pontos fortes, suas qualidades e potencialidades, para que se ampliem e se desenvolvam”. A felicidade pode ser definida como um “Estado emocional positivo, com sentimentos de bem-estar e de prazer, associados à percepção de sucesso e à compreensão lúcida do mundo”. Sócrates e Aristóteles já enunciavam que ser feliz é uma tarefa de responsabilidade do indivíduo. Todos os outros objetivos almejados por uma sociedade, como a beleza, a riqueza, a saúde e o poder eram meios de se atingir a felicidade. Diversos estados e experiências podem nos trazer a sensação de felicidade como: o amor, a alegria, a saúde, a saciedade, o prazer sexual, o contentamento, a segurança e a serenidade. Emoções como tristeza, medo, raiva, ansiedade, angústia, dor e tédio costumam diminuir a felicidade.
Nesse contexto, a revisão de estudos científicos nos mostra que, superado um limite de sobrevivência com dignidade (disponibilidade de comida, água e saneamento básico), o aumento do poder aquisitivo não está relacionado a aumento dos níveis de felicidade. Igualmente, a idade, o gênero, o estado civil, a aparência física, não se associam com os níveis de felicidade.
Características como o cultivo da fé, seja por meio de religiosidade (seguir uma doutrina bem estabelecida) ou espiritualidade, traços de personalidade como extroversão, afabilidade, sociabilidade, senso de autonomia, gratidão, otimismo, altruísmo e humor, bem como a presença de relacionamentos pessoais fortalecidos e saudáveis tem influência nos níveis de felicidade. Os níveis de felicidade costumam ser relativamente estáveis ao longo do tempo na vida de um indivíduo, dependendo menos de eventos externos do que se imagina. Ou seja, eventos ruins e negativos ocorrem, reage-se a eles e após volta-se a um nível basal de felicidade, característico de cada individuo. “Logo, não é o que acontece com o indivíduo que pode deixá-lo feliz, mas a maneira como ele interpreta esses acontecimentos”. Baseado no que foi dito, conclui-se que a ideia de que seremos mais felizes se formos mais ricos, com aparência fisica atrativa e consumirmos determinados itens caiu por terra. A felicidade parece ser, isso sim, muito mais um fenômeno subjetivo, ligada a características individuais de temperamento e postura diante da realidade e pouco influenciada por fatores externos.
Sejamos pois, felizes!
Dra. LAIS FARDIM NOVAES
CRM ES 10.437
RQE 8970 - PSIQUIATRIA
RQE 9014 - MEDICINA DO SONO