Blog

Para refletirmos!

"É árduo o trabalho de crescer. E se engana quem acha que o desafio maior é subir, ascender. Como as árvores, engrossar o tronco, ramificar os galhos, vencer a gravidade. Veja, as raízes vencem a densidade da terra para penetra-la. Seguram o peso da expressão do tronco, galhos, ramos, flores e frutos. “Vencer na vida”, de forma verdadeira e mais completa, requer ir para baixo, tanto quanto ir para cima. É mais especificamente sobre essa descida que quero falar. A copa se ilumina sob a luz do sol, é visível, admirada, seus frutos celebrados. Mas admiração não sustenta árvore. As raízes sim. Raízes permanecem invisíveis sob a terra. Enquanto as folhas e o tronco se nutrem de luz e água fresca, as raízes se nutrem de matéria em decomposição, água turva, lodo, sombra. Há sempre muito coisa se decompondo dentro de nós, lodo em maior ou menor quantidade a depender dos karmas de cada um. Se não formos raízes também, ocupando-nos exaustivamente em sermos tronco e copa, nos arriscaremos a não absorver o que da decomposição nos é nutriente. Mas o movimento de descer é difícil. Lá em baixo o trabalho é feito a choro, silêncio e suor, por um tempo costumeiramente maior do que se imaginava antes. Terapia, meditação e mais terapia. Lá em baixo tudo é mais lento, pois dentro da terra é. É preciso permanência lá, ganhar familiaridade para descobrir a beleza desse processo, para descobrir a beleza oculta da árvore além da exuberância das partes visíveis. Lá embaixo não há selfies. É silêncio mesmo. Lá você não é quem acha que é, mas, se prosseguir, descobre que é por lá que você se tornará você. Sem trabalhar para sustentar sua estrutura, na próxima rajada de vento mais forte tudo pode ruir, o que será uma experiência psíquica de queda ainda mais forte, e tudo terá que ser decomposto. Alguns precisam deprimir para isso, mas todos precisamos sentir a tristeza da decomposição do que precisa ser decomposto em nós. A alegria precisa da tristeza para não ser alegórica. E tudo que a vida continua requerendo de nós é coragem... e zelo."

Texto por @pauloivandasilveira.

Beijos,

Dra. Lais Fardim Novaes